O desmonte do Morro Castelo

 

ma das obras mais polêmicas da cidade do Rio de Janeiro, a demolição do Morro do Castelo no início do século passado, só foi possível graças ao uso da ferrovia para a retirada dos entulhos.  Para realizar o que na época se chamava de o "arrasamento" do morro, o prefeito Carlos Sampaio contratou a empreiteira norte-americana

A locomotiva Baldwin foi construída em 1922 com o número de série 55.341 por encomenda da empreiteira Leonard Kennedy & Co.

A 55.341 está hoje no Museu do Imigrante, em São Paulo, em perfeito estado.

Leonard Kennedy & Co. de Nova York. As obras começaram em 1922.A tarefa consistia em derrubar o morro, que ocupava uma área de 184 mil metros quadrados em pleno Centro da cidade do Rio de Janeiro. Foram retirados 4,6 milhões de metros cúbicos de terra.E o uso da ferrovia neste trabalho foi intenso. A empreiteira usava pequenas locomotivas de manobra para retirar o aterro, que mais tarde foi usado para aterrar a área 

de charco que cercava o morro e nos bairros da Urca, Copacabana e Gávea.

Uma das locomotivas usadas na época foi conservada pela Associação Brasileira de Preservação da Memória Ferroviária (ABPF) e hoje é usada no trem do Museu do Imigrante, em São Paulo. A máquina foi fabricada pela Baldwin Locomotive Works, em 1922 e tem rodagem 0-6-0 ST. Na década de 30, esta locomotiva foi comprada pela E.F.Central do Brasil e passou a ser conhecida como a Número 5. Ganhou nova pintura e limpa trilhos de madeira. Foi usada em pátios de manobras em São Paulo e no Vale do Paraíba e só encerrou suas atividades em 1962, em Cachoeira Paulista (SP). Ficou anos abandonada até ser cedida, no final dos anos 90, pela Rede Ferroviária à ABPF, que a recuperou e reabilitou.

 

O fim de um marco da cidade do Rio de Janeiro

 

Foi a partir do Morro do Castelo que a cidade do Rio de Janeiro cresceu e se urbanizou. A fundação da cidade ocorreu no que hoje é o bairro da Urca, mas em 1567 - depois da expulsão dos franceses pelas tropas de Estácio de Sá - a ocupação da cidade foi transferida para o Morro do Castelo, de onde se tinha uma vista privilegiada para a entrada da Baía de Guanabara.

Os jesuítas, que na época tinham grande prestígio, 

A locomotivas tiveram uso intenso na demolição do Morro do Castelo

construíram um colégio, o convento e uma igreja no alto do morro. Mas a expulsão dos jesuítas da cidade pelo Marquês de Pombal, em 1759, acabou dando origem a uma lenda que ia acompanhar o Morro do Castelo até a sua completa destruição.  Como saíram apressados, fugindo, os Jesuítas teriam deixado para trás um tesouro enterrado no morro.

À lenda do tesouro juntou-se uma discussão em torno do morro que durou mais de um século: a necessidade da sua demolição. Do alto do Castelo, a cidade se espalhou pelas planícies que o rodeavam.E já a partir do século XVII,  a posição

A locomotivas tiveram uso intenso na demolição do Morro do Castelo.

privilegiada da colina perdeu importância para o comércio marítimo que se desenvolveu em torno da praça XV.O casario colonial e as estreitas e tortuosas ruelas do morro passaram a ser ocupadas por uma população pobre e marginalizada. 

Quando a demolição do morro começou em 1922, ninguém mais acreditava que ela iria acontecer. Cinco mil pessoas ainda ocupavam a área. Uma teoria muito em voga na época, dizia que o morro impedia a circulação do vento que vinha da Baía de Guanabara, contribuindo para as moléstias e epidemias que atacavam a população no Centro da cidade. Os defensores de sua destruição, entre eles alguns médicos e sanitaristas, ressaltavam como benefício adicional o uso do entulho da demolição para aterrar a área de charco e mangues que cercavam o morro, eliminando os "miasmas febris", que - dizia-se - subiam do pântano.