As brasileiras

Memória Ferroviária localiza em bom estado locomotivas fabricadas no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial

Locomotiva a vapor 340 produzida no Brasil, e hoje exposta em uma praça em Divinópolis

A II Guerra Mundial teve como resultado no Brasil uma crise sem proporções, em especial de abastecimento, devido, princi-palmente, à impossibilidade de importação e exportação de produtos. Vários segmentos da economia no País foram afetados, obrigando a população a se adaptar a uma nova e dura realidade. As ferrovias não ficaram imunes ao conflito e, para suprir as necessidades de transporte, as oficinas de reparação de material rodante fizeram a sua parte, arriscando-se na construção de locomotivas a vapor. No total, três máquinas foram fabricadas no País: duas na cidade de Divinópolis (MG) e uma no município de Ponta Grossa (PR).

Símbolo da antiga Rede Mineira de Viação

A locomotiva a vapor 339 - tipo Pacific 462 - batizada “Carmem Miranda”, foi construída em Divinópolis nas oficinas da antiga Rede Mineira de Viação. A partir de peças feitas de material usado, recolhidos em sucatas e, utilizando medidas tomadas em sarrafos de madeira, o técnico ferroviário João Morato elaborou o projeto do desenho, construção e supervisão da “Maria Fumaça”. Com um metro de bitola e possuindo capacidade de tração para sete vagões com cento e oitenta toneladas cada um, a locomotiva percorria os trajetos de Divinópolis a Belo Horizonte e de Divinópolis a Garças, em Minas Gerais.

Carmem Miranda

“A construção da locomotiva 339 foi em 1941, época em que a Rede Mineira de Viação estava arrendada ao estado de Minas Gerais e, portanto, as verbas eram curtas”, revela Marcos Antônio Vilela, diretor do arquivo público de Divinópolis. O diretor lamenta o fato da locomotiva ter sido sucateada. “A Carmem Miranda foi um marco inicial do progresso de nossa cidade”
Em 1942, Morato construiu nas mesmas condições da antecessora a locomotiva a vapor da série 340, também do tipo 462 Pacific, conhecida como Dircinha Batista, em homenagem à famosa cantora dos áureos tempos da Rádio Nacional. Segundo informações da diretoria do arquivo público municipal de Divinópolis, a máquina foi construída para funcionar à lenha e em 1958 foi modificada para trabalhar com óleo queimado.
A Maria Fumaça atuou nas linhas ferroviárias de Minas Gerais até 1965, ano que foi aposentada e colocada em exposição. Atualmente, a locomotiva é de responsabilidade da Ferrovia Centro-Atlântica e encontra-se na Praça dos Ferroviários, abrigada sob a réplica de uma antiga estação em Divinópolis.

Segredo de guerra

A locomotiva tipo Mikado 282 foi construída em Ponta Grossa em 1940 para atuar nas linhas ferroviárias da Rede de Viação Paraná -Santa Catarina. O Projeto Memória Ferroviária ainda não passou pela cidade, mas o especialista em locomotivas Sergio Martire acredita que a máquina foi preservada. “Não sabemos se está em um museu ou em uma praça pública, mas temos certeza de que está bem conservada.”
O especialista informa que a fabricação destas locomotivas não era noticiada pela imprensa devido à censura política reinante no período de guerra. “O Brasil lutava contra os alemães e havia muita censura no País em relação ao que era veiculado nos jornais e nas rádios.” Segundo Martire, o objetivo era evitar que o inimigo tivesse conhecimento sobre a capacidade industrial do País e sobre a evolução da indústria brasileira. “As informações econômicas em tempos de guerra eram censuradas pelo governo e consideradas de risco se conhecidas pelo adversário”, disse ele.

Memória Ferroviária
em exposição

O Projeto Memória Ferroviária inaugurou na Brazil Rail 2005 a exposição das melhores fotos de locomotivas a vapor produzidas pelos fotógrafos Américo Vermelho e Rai. A mostra foi realizada entre os dias 14 e 16 de junho no Riocentro, no Rio de Janeiro, e apresentou uma seleção de fotos das locomotivas a vapor localizadas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, os primeiros estados visitados pela equipe do projeto. Os especialistas em preservação ferroviária Sérgio Martire e João Bosco Setti foram os responsáveis pela localização das máquinas (no total de 277). O Projeto Memória Ferroviária está enquadrado na Lei Rouanet e tem como patrocinadores a Usiminas Mecânica, CSN, Amsted Maxion, MRS, SKF, Caramuru, MWL, Knorr Bremse e GE Transportation.