Mal localizadas

Projeto identifica locomotivas gradeadas e em lugares de difícil acesso que impedem a visitação direta do público  

Locomotivas cercadas por grades e estacionadas em praças públicas, em zoológico e até mesmo em uma floresta de mata fechada. Estas são as condições em que algumas das máquinas a vapor se encontram nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Em vez de estarem expostas em um complexo cultural ou estações ferroviárias, as locomotivas estão em lugares mal localizados e de difícil acesso. O projeto Memória Ferroviária encontrou nas cidades de Bragança Paulista (SP), Varginha (MG), Teófilo Ottoni (MG) e Iperó (SP) quatro máquinas nestas situações.

“Existe uma locomotiva a vapor na Floresta Nacional de Ipanema (Flona) em Iperó (SP) que está coberta de mato e árvores em volta”, revela Sergio Martire, especialista em locomotivas do País e consultor do Projeto Memória Ferroviária. Segundo ele, a equipe terá que percorrer uma trilha para chegar ao local onde a máquina está estacionada. Para isso, terão que contar com a ajuda de funcionários da Flona. “A locomotiva está escondida dentro da mata. Teremos que abrir uma clareira para chegarmos perto e fotografá-la”.

Conhecida como Nani, a locomotiva foi construída em 1910 pelo fabricante alemão Henschel e Sons no modelo AAR 4-6-0, número 8 e bitola de 600 mm. A máquina atuou no transporte de passageiros para a Estrada de Ferro Douradense (SP) até 1940, quando passou a ser utilizada na movimentação de minério das jazidas de ferro existentes nas montanhas da Flona até o complexo industrial da empresa Serrana Adubos em São Paulo. Martire não sabe afirmar até quando a locomotiva atuou neste transporte. “Apenas temos a certeza de que ela se encontra na Flona há mais de vinte anos.”


  Locomotiva AAR 440 estacionada no zoológico público de Varginha (MG)

Em meio aos bichos

No zoológico público da cidade de Varginha (MG) encontra-se a locomotiva Maria Castro (modelo AAR 440), construída em setembro de 1894 e utilizada na movimentação de passageiros pela Estrada de Ferro Oeste Minas. As máquinas do tipo 440 atuaram neste serviço até o final da década de 70, período que foi sucateada a maior parte do acervo de locomotivas a vapor de bitola métrica da Rede Mineira de Viação.
O especialista atesta a boa conservação da máquina, mas discorda da forma como está exposta. “A locomotiva é um legado para as gerações futuras sobre o passado histórico da região. Mas a exposição de Maria Castro não disponibiliza o acesso direto aos visitantes”, diz o especialista, referindo-se ao fato da locomotiva estar situada em uma área isolada.

Enjauladas

Em Bragança Paulista (SP), a locomotiva Luiz Leme, prefixo nº 3 e modelo 2-6-0, da antiga Estrada de Ferro Bragantina, encontra-se enjaulada em uma praça pública, próxima a um ponto de ônibus da cidade. “Para evitar vandalismos e roubos, a máquina está cercada por grades, não deixando opção de visitação ao objeto ferroviário.”
A Prefeitura de Bragança Paulista pretende reformar a locomotiva para a retomada do transporte turístico de passageiros da cidade. Segundo Mauro Sabatini, chefe da Divisão de Turismo da Secretaria de Cultura e Turismo da cidade, a prefeitura possui um projeto de recuperação das estações Curitibanos e Guaripocaba. “Em julho vamos ajustar a caldeira da locomotiva para que ela possa funcionar plenamente nestas estações.”


  Locomotiva AAR 2-6-2 gradeada em uma praça em Teófilo Ottoni (MG)

Na principal praça da cidade de Teófilo Ottoni (MG) está exposta a locomotiva Jovianna, originada da Estrada de Ferro Bahia Minas. Construída pela americana Baldwin Locomotive Works em 1881, a máquina de configuração AAR 2-6-2 e prefixo nº 1 também encontra-se gradeada. “A Jovianna permanece na cidade como lembrança de um passado remoto e distante, porém a localização e as grades tiram a atenção das pessoas para a importância deste marco histórico”, afirma Martire. O departamento de Cultura da cidade de Teófilo Ottoni informou que a prefeitura não pretende mudar a localização da locomotiva.